16/04/2006

(Isso estava escrito a lápis há dias, em uma folha solta na bolsa. Passo pra cá hoje, então o "agorinha mesmo" é relativo)
Comprei um livro hoje, agorinha mesmo.
Comprei um livro hoje, agorinha mesmo, que custou a espantosa quantia de R$ 10.
Comprei um livro hoje, que, pela espantosa quantia de R$ 10, rendeu-me um lindo diálogo, poesia do cotidiano.
O moço do caixa - e "moço" é jeito de falar, posto que era um senhor já bem senhor - abre o exemplar para ler a etiqueta que informa o valor quase simbólico do volume e comenta:
- Trabalhei nesta editora por mais de xxx anos. Talvez eu tenha vendido este livro pra cá.
O tom de "encontrei um velho amigo" e a forma respeitosa com que o senhor segurou o livro - com as duas mãos, firmemente - já teriam sido dignos de nota, devolvendo doçura à minha tarde até então triste e pesada.
E ele prosseguiu:
- Uma vez, peguei aqui um livro em que o antigo dono, uma vez decidido a vender para um sebo, mas talvez com pena de levar a cabo o gesto, escreveu na folha de rosto "Vou vender este livro para um sebo, mas ele vai voltar" - e virou de costas, para fazer o troco.
Quase chorei.
(A propósito, os livros de hoje foram "A máquina", ainda com a capa antiga, sem a apelação do filme, e "Não agüento mais", sobre depressão)

Outras ...



When you´re down and troubled
and you need a helping hand


Lancei garrafas ao mar, recentemente. E a situação era tão grave que nem usei metáforas ou sutilezas: fiz uma lista objetiva das coisas que me fazem doer o calo e o coração e mandei para um grupo de amigas. Qualquer "não fique assim" já seria um apoio e tanto, mas a reação foi a mais doida, ampla e linda manifestação de amor que eu já recebi!!
Meu e-mail teve mais respostas que megafone do Globo Online!!
Ganhei camiseta com palavras de ordem da minha amiga do mundo dos contos de fadas, pessoas se levantam no meio do dia de trabalho para vir me abraçar, em uma espécie de homeopatia de afeto, uma em especial disse estar estudando um objeto tipo um vuduzinho para eu descarregar as tensões, as portas dos mais variados credos se abriram para mim, todas se preocupam em encher a minha agenda social para eu não ter tempo de sofrer, todas vigiam minhas mãos para eu não fazer buracos na pele e algumas, mediunicamente, mandam mensagens de casa: "Tira a mão do rosto!", "Te peguei no Orkut!".
Muito engraçado, muito comovente, muito, muito, muito importante!!!
Os meninos (para quem eu não mandei mensagem, porque contava apenas com a solidariedade-mulherzinha*) acabaram aderindo um pouco também. Terráqueo, que presenciou um momento "mar de lágrimas", redobrou o carinho já tradicional, LSDias convidou para cineminha ameno no fim da tarde, o amigo da madrugada convidou para um café com risadas e o teacher afirmou ter um "lado muito feminino" e pergunta o que pode fazer para me ajudar...
Definitivamente, a melhor coisa que tenho na vida são os meus amigos.
* Solidariedade-mulherzinha: conceito de minha autoria, elemento agregador superior a nacionalismos, credos, raça e opção sexual, só tem força igual na solidariedade futebilística, seu correspondente masculino. Nenhuma ligação, herança ou compromisso com a solidariedade feminina dos anos 60, quando as "irmãs" descobriram que somos a minoria mais maioria do universo.
Que atire o primeiro post quem nunca caiu no ridículo adolescente de colocar músicas no blog. Até aque eu vinha resistindo, mas quer saber? Azar se é adolescente, ridídulo ou ambos. Lá vai:

Tristeza, por favor vá embora
Minha alma que chora está vendo o meu fim
Fez do meu coração a sua moradia

Já é demais o meu penar
Quero voltar àquela vida de alegria
Quero de novo cantar


E esta (esta, sim, ridícula de doer), que me foi sugerida como um mantra: (Admito que ainda não alcancei este ponto de elevação espiritual, mas caminho célere nesta direção)

De mãos ao atadas, de pés descalços
Com você meu mundo andava de pernas pro ar
Sempre armada, segui seus passos
Atei seus braços pra você não me abandonar
Já nem lembro seu nome, seu telefone eu fiz questão de apagar

Aceitei os meus erros, me reinventei e virei a página
Agora eu tô em outra... (...)
Pode ficar com seu mundinho eu não to nem aí