23/01/2006

Uma metáfora para a minha vida
Quem me conhece sabe que eu tenho duas casas, o que significa que eu fico carregando malas para lá e para cá. Pois bem: uma dessas malas estava estacionada na minha cozinha desde sexta, e também desde sexta eu vinha evitando abri-la. Eu não lembrava bem o que havia guardado nela, mas estava certa de que ela estava cheia daquilo que chamo genericamente de pendências - tarefas dos dois empregos, da aula de inglês, das promessas feitas aos amigos e a mim mesma e nunca cumpridas, roupa por lavar, livros por ler, e não sei mais o que.
Passei todo o dia de hoje adiando, temendo, contornando e fingindo não ver a dita mala. Como estratégia para evitar encarar esta que eu julgava ser a mais penosa tarefa do fim de semana, arrumei todos os armários e estantes que pude - e não posso negar que isso foi bem divertido e lucrativo, mas definitivamente não era uma prioridade, era só uma rota de fuga.
Quando acabei de arrumar a última prateleira e não havia mais como escapar, fui lá, com o coração apertado , encarar a mala, já pronta para dizer "Ai, meu Deus , eu devia ter feito isso primeiro...".
Adivinhem? A mala estava VAZIA... em algum momento eu tirei tudo o que estava dentro dela e não lembrava, não percebi, sei lá. Atormentei-me três dias seguidos à toa.
Moral da história: acho que estou carregando, sem saber , muitas outras malas vazias na vida. Preciso olhar dentro delas, para finalmente descansar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorável e mil vezes querida Lilian, ouso sugerir-lhe uma visita ao agitado e multi-aromático local conhecido como Ver-O-Peso, o mercadão de Belém do Pará, às margens do Amazonas. A visita em si, penso, nada lhe traria de bom ou útil, mas a filosofia subjacente ao nome do local, esta sim, lhe seria de grande valia em situações futuras semelhantes a esta da mala dos três dias. Digo isto porque, no caso em pauta, um leve cutucão na famigerada mala, ou mesmo uma rápida e despretensiosa pegadinha na mesma, fariam com que você, jovem arguta, de raciocínio ágil e sempre brilhante, percebesse em dois nanossegundos a vaziez do tal receptáculo, melhor dito, a mala, sim, ela. Termino então reforçando meus louvores à sua luminosa pessoa e apresentado antecipadamente minhas escusas caso este modesto comentário a tenha feito vibrar em diapasão diverso do da concórdia universal e do espírito construtivo que silenciosamente une as almas benfazejas encarnadas sob o céu.

Anônimo disse...

Lilian, há muitos fantasmas que não existem, mas que teimamos acreditar...

Beijocas...